quinta-feira, 22 de maio de 2014

Undo myself



Há meses que não escrevia nada aqui, mas senti necessidade de cá vir só para redigir algo. Acabei de ver uns vídeos sobre as marchas de Quarteira, e fez-me reviver bons tempos que lá passei, porque a minha vida toda sempre foi no Algarve, apesar de ter nascido aqui. Agora apercebi-me que a vida é uma treta e que desde 2006 nunca mais nada foi o mesmo, e que eu nesse tempo é que era realmente feliz porque apesar de pequenas porcarias que eu não tinha, o melhor eu tinha: os meus pais.
A minha irmã nessa altura era criança e via-me como um exemplo, ao contrário de agora que se assume demasiadamente ocupada para querer mandar uma simples mensagem a dizer "hey estás vivo?". A minha mãe nessa altura andava sempre cheia de trabalho mas tinha sempre tempo para os nossos problemazinhos e apesar do feitio intempestivo dela, sempre soube lidar com as várias situações e sempre esteve muito presente. O meu pai sempre foi um pouco mais ausente, sobretudo nos últimos tempos, por causa do trabalho. Só nos víamos realmente ao fim do dia e só saíamos juntos aos domingos (se ele não tivesse trabalho nesse dia).
Lembro-me perfeitamente do ambiente, dos cheiros, das pessoas, do ar que se respirava naquela altura, naquela cidade onde eu vivia, mas claro, eu com 13 ou 14 anos não ligava a isso porque já estava habituado. A vida muda tanto, às vezes em questão de segundos, e as pessoas não têm tempo sequer para se recompor e aceitar, por vezes, algumas mudanças. Eu acho que ainda não aceitei a minha. Acho que sonho ainda com o dia em que volto para o Algarve, para junto dos meus pais e da minha irmã, e volto aos meus inocentes mas problemáticos 13 anos. Volto à minha antiga escola, gozo as minhas férias de verão porque para o ano vou para o 9.º ano. Nesta altura, já me começariam a falar sobre exames e coisas que na altura achamos que seja um - ou até mais do que um - bicho papão, fazendo-nos quase acreditar que a nossa estadia aqui neste mundo depende disso. Nesta altura, o meu corpo já começaria a mudar mais acentuadamente e eu já iria ficar na dúvida se partilharia isso com o meu pai, por ser homem mas por ter menos confiança, ou com a minha mãe, de quem falei sempre sobre tudo (ou quase tudo), apesar de ser mulher. Nessa altura, a minha irmã estaria a iniciar o 1º ano e saber-se-ia lá como estaria a cabeça da minha mãe, que ia estar mais mãe-galinha do que o normal. Eu também iria querer acompanhar o percurso dela, pois o 1º ano é sempre aquele ano de adaptação. No final das aulas e por essa altura, já teria mais responsabilidade pelos meus atos e mais confiança por parte dos meus pais, por isso talvez já pudesse ir com os meus amigos até à praia, que ficava perto da escola.
Tudo seria diferente se nada tivesse acontecido, e agora que penso acho que teria sido melhor do que agora, apesar de hoje também ter bons momentos que guardo.
Viver no Algarve significava para mim um porto seguro, uma parte da minha vida que estava preenchida e que agora não está mais. No lugar da infância e da pré-adolescência que lá passei, surgiu algo que não tem explicação, mas que foi mau a maior parte. A partir de 2006 perdi tudo e não sei se é recuperável. Se for, não sei quando tempo irá demorar até acontecer isso. Não sei. No fundo, sinto-me vazio e acho que por mais e melhor tempo que irei viver, irei sentir-me sempre vazio nesse aspeto. 

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